Esta semana saiu o resultado do exame da OA... Maldita Segunda-Feira! O telefone tocou, já tinha tocado antes mas eu só ouvi naquele momento, era a I. Podia ter aquele sentimento bom que, por estar longe, sempre tenho quando alguém especial liga... Mas não, naquele momento tive apenas e só um nó grande, muiiiito grande na garganta. Não foi preciso falar, percebi logo... Depois as duras palavras, ela proferiu-as docemente, eu ouvi-as como um murro no estômago. NÃÃÃÃO!!! Não era possível, depois de tudo o que me dediquei, de tudo o que sacrifiquei, depois daquela doença terrível, dos desgostos, desilusões, merecia qualquer coisa mais do que "Não aprovado"...
Há dias assim, terríveis. Liguei ao P. Nada. Maldito dia para ter aquela reunião... "Liga p.f. Urgente", escrevi. Nada. Mããããe!!! Um grito mudo! Não importa termos quase 30 anos, não há nada neste Mundo como o colo da minha Mãe. E lá estava ela do outro lado, com palavras calmas, doces e de sabedoria... "Não importa..." O problema é que importa, o problema é que vocês todos sabem que importa e dizem isso para silenciar a minha dor. O problema é que eu sei que importa, e essa mentira piedosa dói ainda mais.
Depois veio a solidão... 2210 km... A minha metade da laranja incontactável, o meu melhor amigo, o meu refúgio... E agora? O que iria ser de mim? Nicotina, sim era isso que eu precisava! O meu sangue corria a uma velocidade vertiginosa... "BURRA! BURRA!" A única coisa que eu pensava... Depois aumentei o leque de sinónimos:
looser, frustrada, "triste", incompetente... De seguida a culpa: "Tu mereces", "Não vales nada", "Não és ninguém", "Quem é que vai gostar dum lixo, dum trapo?"... (Porque é que nestas horas essa máquina extraordinária que é o nosso cérebro é tão destrutiva? Será de mim?)
Não consigo lembrar-me quanto tempo passou... Sei que tocou o telefone várias vezes, a N., a G., perdoem-me, mas não me apetecia falar.
Tinha o medo da desilusão que vos iria causar, a decepção... Tinha medo das palavras duras que viriam... Da reacção do Pai... E, no entanto, sem sentido... Foi mais um abraço dado pelo
skype, um sorriso que só ele me sabe fazer, como diz a Mãe, mal o vi, fiz a minha maior cara de mimo... Esta paixão que tenho por ele e o medo de desiludi-lo... Mas eu sou humana e erro! Ao que parece mais do que acerto!
Mais uma vez o telefone tocou "Mary Manusca" dizia... Não tinha como não entender... Só ela me conhece pelo choro... Às vezes sinto que está distante mas está seeempre lá para mim... Não precisei falar... Do meu lado silêncio e soluços... Do lado de lá palavras certeiras! Nestas alturas parece sempre que falas de cima da sabedoria desses duros 23 anos, pareces a Mana mais velha e só tu me fazes sentir assim... Que bom que é o calor da tua voz grave e doce... Quase consigo sentir os "beijinhos pequeninos" que só tu sabes dar desde bebé.
Porque será que foi logo naquela Segunda-Feira em que, depois de algum tempo, tinha conseguido dormir bem, relaxada, feliz? Que presságio enganador!
Não há nada pior que um gancho de esquerda quando não estamos nada, nada à espera! Obrigado Marinho Pinto e
sus muchachos.
Passaram 3 dias entretanto, curti a minha fossa, vitimizei-me, culpei-me, desculpei-me mas uma coisa tive sempre presente, aquele sorriso do P., aquele calor do seu abraço a meio da noite quando não conseguia dormir, aquela mão que põe sobre a minha cabeça, na pressão certa, com o peso certo, com o calor certo. Tudo nele é certo e perfeito. Então vêm outra vez as dúvidas... "Não sou digna nem merecedora de alguém como tu". Ele confidencia-me baixinho, no escuro, que também falha, também tem medo... Não é assim que te vejo mas é bom saber que sim!
E depois hoje o dia cinzento... Mesmo, mesmo feio! Quero sorrir... E, por me lembrar duma data especial, lá vem um sorriso tímido. 6 meses de vida em conjunto, 18 meses de vida a dois. Parece-me um motivo suficientemente grande para sorrir, para comemorar! Parece-me, aliás, uma boa razão para acreditar... Sim, porque mesmo eu lutando por não acreditar em ti, Deus, (não, não quero acreditar em Ti, traíste-me uma vez mais), quando penso neste amor, no momento em que o fizeste cruzar o meu caminho, quando penso no tamanho do colo que ele tem para mim, quando penso na família maravilhosa e incansável que tenho, nos abraços quentes dos Pais e Mana, nos colinhos das minhas amigas incansáveis, por mais que queira estar zangada conTigo, ignorar-Te, fingir que não existes, não consigo... Sei que estás aí... Às vezes és mais míope que eu, mas existes...
Hoje, mais do que nunca apeteceu-me voltar a escrever... A ti querido P.
"
Não estejas preocupado comigo, eu cá me aguento, como sempre fiz, e contigo ao meu lado é ainda mais fácil.
Hoje estamos de parabéns, os primeiros seis meses de vida em conjunto... Não têm sido fáceis mas têm sido cheios de significado, sabor, partilha e, apesar das incertezas, reina uma certeza maior, a de que encontrei a minha metade da laranja, O Homem da minha vida!
Obrigada por estes seis meses, e pelo ano e meio que faremos amanhã! Sem ti nada teria sido possível e nada teria sentido!
És hoje parte de mim, não consigo conceber viver esta vida sem ti, sem o teu colo, o teu apoio, os teus abraços, os dedos ternos com que me limpas as lágrimas e a mão firme com que me empurras para a frente. Contigo o desconhecido não me mete medo.
Obrigada do fundo do coração por seres quem és e me fazeres quem sou!
Que venham mais seis meses vezes infinitos que nós estaremos cá para os viver e sermos felizes!
Obrigada por tudo!
Beijinho grande!
Amo-te!"
(Este blog, o meu espaço, o meu caderno de rascunhos não é só "My Stilettos" é também, e muito, "My Soul")
